“Sozinha, ali, a Expectação em indestrutível morada”

A caixa de Pandora, que guardou a esperança para a humanidade, é uma história que sempre valerá a pena lembrar.

Pandora foi a primeira mulher criada na mitologia grega e ela traz consigo um jarro onde estão guardados diversos males do mundo. Antes de sua criação, os homens viviam junto com os deuses e não precisavam trabalhar, pois tudo brotava do solo divino. Mas essa harmonia se encerra com o início de um confronto entre os deuses. O titã Prometeu, filho de Zeus, rouba o fogo da divindade e entrega-o aos homens.

Com esse presente divino, acontece uma decisiva separação entre homens e deuses, colocando-os cada qual em seu lugar. A nova realidade para os homens se torna bem diferente. Se antes o fogo era uma concessão celestial, agora será produzido pelos mortais, surgindo, também, a necessidade do trabalho, visto que não estão mais em solo divino do qual tudo brota; é preciso lutar para sobreviver, conquistar o alimento e manter a chama da vitalidade.

Então, Zeus, pai dos homens e dos deuses e com a força de seu poder soberano, dá aos homens a mulher. Pandora é criada como uma obra de arte divina, recebendo diversas qualidades dos deuses, como graça, beleza, inteligência, paciência, etc. O presente de Zeus aos homens não tem volta e define a condição humana, que é carregada de ambiguidades. A sexualidade une e separa ao mesmo tempo. E se antes a perpetuação da espécie humana era garantida pelo solo fértil dos deuses, agora para isso os homens passam a depender das mulheres.

Pandora foi enviada para o titã Epimeteu, irmão de Prometeu. Epimeteu é conhecido como aquele que compreende o que fez somente depois de tê-lo feito. Enfim, Pandora abre a tampa do jarro e dissemina todos os males pelo mundo, deixando ali muito bem guardada, e sozinha, a esperança.

A origem desse mito foi registrada, entre outros, pelo poeta Hesíodo, há vinte e sete séculos. A figura mítica de Pandora se tornou recorrente nas artes e pesquisas, tendo sido contada inúmeras vezes e interpretada de diversas formas. Mas mesmo quem nunca a ouviu, de alguma forma apresenta em seu imaginário essa ideia, de que não podemos perder a esperança. Especialmente em tempos difíceis como o que estamos vivendo, em que as mortes, a fadiga e as doenças estão disseminadas pelo mundo, é bom lembrar que a esperança está guardada.

Referência bibliográfica:

Hesíodo. Os trabalhos e os dias (primeira parte). Introdução, tradução e comentários: Mary de Camargo Neves Lafer. São Paulo: Iluminuras, 2006.